Para apreciar vinhos Meio Seco, a palavra de ordem é equilíbrio
Descubra algumas curiosidades e verdades sobre os vinhos que carregam no rótulo a expressão "meio seco"
Por Cibele Siqueira*
Vinho Meio Seco é doce? Vinho Meio Seco é para iniciantes? Como muitas coisas na vida, a resposta é: depende. Para começo de conversa, vale lembrar que o termo Meio Seco se refere à quantidade de açúcar residual no vinho, ou seja, o açúcar que sobrou da fermentação alcóolica. Então, é um engano pensar que se trata de açúcar adicionado
No Brasil, os vinhos podem ser Meio Seco tanto pela legislação, quanto pela tipicidade do terroir ou até mesmo pela proposta do enólogo. A legislação brasileira diz que vinhos que possuem de 0 a 4 g/L de açúcar residual são considerados secos, acima de 4,01 até 25 g/L são meio secos (olha o tamanho dessa lacuna) e acima de 25 g/L doce ou suave. Por outro lado, na União Europeia, é possível ter um vinho seco com até 9 g/L – o que no Brasil sofre nova rotulagem para meio seco devido a nossa legislação. Mas, nos Estados Unidos, a legislação muda para até 17g/L a quantidade de açúcar residual para um vinho seco.
Com todas essas informações divergentes, o que acontece é que quando um vinho chega no Brasil ele passa por análises e, se ultrapassar os 4 g/L estabelecidos pela lei brasileira, a garrafa passa por uma nova rotulagem para Meio Seco, independentemente de ser considerado um vinho seco em seu país de origem. Vale ressaltar que isso ocorre quando falamos de vinhos tranquilos (sem borbulhas), pois a quantidade de açúcar muda para os espumantes.
“Mas, Cibele, então tudo se resume a legislação?”. Não. Existem outros fatores como o de tipicidade. Em vinhos como o Primitivo de Salento, da Itália, é esperado que ele seja meio seco pela sua tipicidade e também pelo equilíbrio com seu teor alcoólico. A mesma coisa ocorre com a Zinfandel na Califórnia. Isso geralmente acontece em regiões mais quentes, secas e também com muitas horas sol, em que a uva concentra muitos nutrientes, sabores e aromas, os vinhos resultam em rótulos com teor alcoólico e quantidade de açúcar residual maiores.
Mas tudo na vida é equilíbrio, concorda? Com os vinhos também é assim: o açúcar residual é elemento estrutural de equilíbrio do vinho com aspectos como acidez, taninos, corpo e teor alcoólico. Um vinho com acidez pronunciada, alto teor de álcool e taninos presentes, por exemplo, pode ficar desequilibrado e austero a depender da quantidade do açúcar residual. Ou seja, a harmonia de todos os elementos juntos, resultam em vinhos macios no paladar.
E por último, tudo depende da “proposta” do vinho. Para pessoas que possuem um paladar mais adocicado, que curtem notas doces no vinho, e até para principiantes, o ideal é apostar em vinhos com esta composição, como por exemplo, a linha Dadá, da vinícola argentina Finca de Las Moras. É uma linha irreverente, acessível e com notas pronunciadas de baunilha e cacau. Certamente exemplares que encantam os paladares iniciantes, mas também que trazem a irreverência de aproveitar um vinho sem regras e sim com o momento.
A dica para harmonizar vinhos Meio Seco é apostar em pratos que levam molhos agridoces e também picantes, pois o final adocicado combina com o doce do molho e ajuda a atenuar a sensação de picância. Sendo assim, o açúcar residual não é sinal de baixa qualidade, não é o “vilão” na hora de você comprar o seu vinho. Pelo contrário: ele é o elemento estrutural de equilíbrio.
O desafio está lançado. Prove um vinho Meio Seco e deguste-o sem se preocupar com o contrarrótulo, mas sim em entender se as suas características estão em harmonia! Por fim, já que o segredo do Meio Seco é o equilíbrio, não esqueça de, ao apreciá-lo, hidratar-se com água. E aprecie com moderação!
* Cibele Siqueira é sommelière da Wine, maior clube de assinatura de vinhos do mundo e líder no ranking de importação do mercado de vinhos. Possui experiência no ramo de bebidas há 15 anos e é Sommelière formada pelo Senac e Fisar/ UCS. Certificada pelos FWS, WSET 3 e EVP – especialista em Vins de Provence. Formada em Direito pela Faculdade de Direito de Franca, possui MBA em Gestão Empresarial pela FGV, e MBA em Liderança, Inovação e Gestão 3.0 pela PUC-RS.
