A favor da maré
Fotos RJ Castilho
Diferente das festas natalinas em clima de inverno que estrelam os filmes americanos da Sessão da Tarde, no Brasil o Natal é comemorado no verão. Celebrada em um dos meses mais quentes, a data é também pretexto para viajar em busca de sol, praia e água fresca. Nesse contexto, preparos leves e refrescantes podem ser boas opções para substituir as comidas pesadas que normalmente compõem as ceias em família.
Na casa de Renata Vanzetto, chef e empreendedora, o Natal costuma ser nada convencional. Nascida e criada em Ilhabela, Litoral Norte do estado de São Paulo, Renata incorporou os costumes caiçaras a seu estilo de vida e, principalmente, em criações na cozinha. “Para a data, não gosto de fazer peru, tender, esses preparos típicos”, diz. “Teve um Natal em que servi moqueca, simples de fazer e que combina muito bem com o verão. Afinal, qual é a graça em ficar horas na cozinha em dia de festa?”
A jovem cozinheira é proprietária do Grupo Marakuthai, que hoje engloba dois restaurantes em São Paulo e um em Ilhabela, e ainda do Ema, do bar Me Gusta, ambos na capital paulista, e do novíssimo Lambisgoia, aberto em outubro em Ilhabela com ambiente informal, sotaque caiçara, drinques clássicos e comida de boteco. Ela preparou para os leitores de Prazeres da Mesa quatro deliciosas receitas, todas com frutos do mar, para uma ceia descomplicada, leve e ainda assim elegante.
O mar está bom para peixe

No entanto, não é desde sempre que o Natal da família Vanzetto carrega influências litorâneas. “Tenho memória de algumas ceias com comidinhas tradicionais, pesadas. Mas com o tempo fomos desconstruindo e hoje comemoramos a data de maneira diferente”, diz.
Além da leveza e do sabor indiscutível, as receitas foram pensadas pela praticidade. “Queria preparar um peixe, e essa receita é incrível. É um prato que ofereço no Marakuthai e todo mundo pira”, afirma. “Enrolado na taioba, basta temperá-lo a gosto e assá-lo para obter um pescado úmido e de sabor especial, atribuído pela folha – não tem erro.”
O quibe cru de atum com romã também é um dos preparos que fazem sucesso entre os clientes de Renata. “É a entrada mais vendida no Ema. Nós a temos no cardápio desde que abri o restaurante, e todos adoram. Acho que as pessoas gostariam de ver a receita”, diz. “No final, é algo superfácil de fazer, legal para eventos familiares e é possível duplicar as quantidades para obter mais porções.”
O gosto pessoal também não poderia faltar na refeição de Natal da jovem chef. A moqueca é o preparo que mais gosta de fazer, e prato indispensável nos almoços de família. Para dar uma nova roupagem ao quitute e deixá-lo adequado à ocasião, ela preparou arroz de moqueca de lagostim e farofinha de castanha de caju. “Essa é uma maneira um pouquinho diferente de apresentar a moqueca, mas traz basicamente todo o sabor dela”, afirma.
O ceviche, um dos acepipes que mais combinam com praia e calor, também foi escolha de Renata para compor a ceia do mar. Feito de atemoia e servido com chips de batata-doce, é a segunda receita que mais gosta de preparar. “Praticamente todas as opções do cardápio do Me Gusta são ceviche.”

Menina do litoral
Apesar do currículo de gente grande, Renata tem apenas 27 anos. As primeiras experiências na cozinha começaram ainda na infância, no antigo restaurante da mãe, hoje sua sócia e companheira. “O engraçado é que minha mãe não sabe cozinhar nem mesmo um ovo. Ela é decoradora e queria abrir um espaço com o jeito dela.”
A curiosidade de provar novos sabores, aliada à oportunidade de colocar a mão na massa, fez com que Renata encontrasse sua paixão. “Na minha família, o único contato que tive com cozinha foi com minha avó. Ela prepara aquelas comidinhas caseiras: arroz, feijão, bolo. Mas foi um começo, porque, desde os 9 anos, eu já ajudava a picar cebola, a preparar os ingredientes”, diz.
Com 17 anos, partiu para a Europa para estagiar em restaurantes na França e na Espanha. De volta ao Brasil, abriu o Marakuthai em Ilhabela, hoje com uma década de serviço. “Nesse meio-tempo, ainda fui para a Dinamarca, em Copenhague, estagiar durante um mês no Noma, do chef René Redzepi.”
Assim como o evidente talento no comando das caçarolas, a veia empreendedora parece ter surgido naturalmente. “Ser proprietária de tantos restaurantes não foi algo planejado. Nunca tive essa pretensão. Começamos pequenininhos, as oportunidades surgiram e conseguimos abrir também em São Paulo.”

Tintim por tintim
As dificuldades de manter um restaurante vêm multiplicadas para Renata. No comando de oito projetos, a empreendedora de mão-firme não deixa escapar um só detalhe. “Antes de vir para essa entrevista, eu estava decidindo de qual lado o logo do Lambisgoia ficaria no guardanapo”, diz.
Minúcias que para muitos são irrelevantes, para ela são o segredo do sucesso. “Sou muito apegada aos detalhes”, afirma. “Seja o trabalho com o fornecedor, a vela na mesa, a louça em que é servida a comida, a playlist, o uniforme do garçom. No final, é isso o que faz a diferença.” Para Renata, é bastante gratificante quando os clientes identificam o esforço de toda a equipe em oferecer, com pequenas coisas, uma boa experiência à mesa.
