O primeiro dia de Mesa Tendências
Texto e fotos: redação*
*Post atualizado em tempo real
Firmando-se como um evento para todos, o Semana Mesa SP conta nesse ano com intérprete de língua dos sinais no Mesa Tendências, que acontece até o dia 28, no Memorial da América Latina.
Confira aqui o resumo do primeiro dia de Mesa Ao Vivo.
O primeiro a subir no palco desse ano foi Arnaldo Lorençato, crítico gastronômico da Veja São Paulo. “Comer é um sentimento, é algo que vem do coração”, conta o crítico ao relembrar dos 25 anos de carreira.
Com direito a muita emoção, Roberta comentou sobre o recente episódio em que queijos de pequenos produtores foram descartados por não ter um selo. Além disso, a chef contou sobre os novos rumos de sua carreira, depois de encerrar as atividades de seu premiado restaurante Roberta Sudbrack. “Estava incomodada com a falta de desafios e quis começar de novo. Eu precisava me reconectar comigo mesma”, contou a chef.
A chef eslovena Ana Roš contou a sua trajetória desde criança até se tornar a melhor chef mulher do mundo de 2017. “Quando assumi o restaurante eu não sabia cozinhar. Tive de aprender do zero. Foi uma luta diária”, disse a chef.
Os chefs Leo Paixão e Rodolfo Mayer, mais o gastrônomo Rusty Marcellini, se uniram para mostrar, no Mesa Tendências, um novo conceito da cozinha mineira com a releitura de pratos típicos apresentados de maneira criativa e inusitada. “A base é mineira, transmito a cozinha que eu vivo”, diz o chef Rodolfo Mayer.
O chef de cozinha Pedro Siqueira e o padeiro Marcos Cerutti estão consolidando no Rio de Janeiro uma nova ideia de pizzaria. Eles utilizam matéria-prima de pequenos produtores e apostam em uma receita de massa com bordas, que também servem com entrada no cardápio. “Pizza é o alimento mais simples e mais democrático da gastronomia”, diz o chef Pedro Siqueira.
O casal Janaina e Jefferson Rueda fala sobre a experiência de morar e trabalhar no Centro de São Paulo, que é onde se inspiram para criar as receitas do Bar da Dona Onça e de A Casa do Porco Bar. “A gente não está trazendo coisas novas, mas inserindo o que já existe”, diz Janaina.
Emocionada, a chef Manu Buffara, de Curitiba, conta sobre o projeto Hortas Urbanas do Rio Bonito. O trabalho é desenvolvido na maioria por pessoas idosas, que produzem os alimentos para a comunidade e também para os restaurantes da região. “Cozinhar é um ato revolucionário”, diz a chef.
O pop up do chef Alex Atala teve gosto de celebração. Ele subiu ao palco com Jerônimo Villas Boas para anunciar que o governo do estado de São Paulo acaba de regulamentar a produção de todas as variedades de mel de abelhas nativas. Segundo Villas Boas, o regulamento é democrático e contempla até mesmo o mel fermentado – o que pouca gente do setor acreditava ser possível. “Chegamos a esse ponto graças aos produtores, que trabalham há anos na clandestinidade”, afirmou. Para Atala, o Governo Federal tem agora um exemplo a seguir. “Se todos copiarem a legislação de São Paulo, colocaremos a cadeia no mercado com dignidade.”
Mal chegou da Colômbia, onde foi premiado pelo 50 Best Latin America, o chef Rafa Costa e Silva, do carioca Lasai, subiu ao palco do Mesa Tendências. O cansaço não o impediu de encantar a plateia com a simplicidade de sua cozinha. Em poucos minutos, Rafa preparou quatro petiscos e duas entradas, todos produzidos com os vegetais que cultiva na própria horta. Um deles, imagine, recebe o nome de sanduíche de mato. Enquanto cozinhava, o chef aproveitou para passar um recado: “Acho que o menu-degustação não morreu. É um momento especial e quem vai ao meu restaurante espera por esses momentos.”
Em seguida, os chefs brasilienses Francisco Ansiliero, Mara Alcamim e Gil Guimarães subiram ao palco do Mesa Tendências para exaltar o trabalho dos pequenos produtores do cerrado. “Com a pesquisa que desenvolvemos com o Panela Candanga aprendemos a respeitar o produtor e ingredientes que estão por aí perdidos, que ninguém usa”, diz Gil Guimarães. Francisco Ansiliero afirma ainda que é preciso acreditar “em nossa gente, em nossa terra e em nossos produtos”.
A comida simples e de origem é ingrediente principal para a revolução gastronômica, segundo a chef Ana Luiza Trajano. Com auditório lotado, ela apresentou ainda o seu novo livro intitulado “Básico”, que traz mais de 500 receitas com produtos típicos do Brasil.
O presidente do Slow Food Carlo Petrini encerrou o primeiro dia do Mesa Tendências com muita sabedoria e aprendizado. O italiano deu uma verdadeira aula sobre o valor da biodiversidade para uma nova economia sustentável e apresentou o belo trabalho do livro A Arca do Gosto do Brasil que reúne ingredientes ameaçados de extinção.