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Adepto da viticultura orgânica, Éric Texier resgatou uma série de diferentes clones da uva Syrah

Vinhos naturais formam uma categoria à parte e, tal qual brancos e tintos, existem os fracos, os medianos e os ótimos, seguramente Texier pertence a essa última categoria

Por Marcel Miwa

Originalmente engenheiro nuclear, Éric Texier entrou no mundo do vinho pela melhor forma: por meio da taça. Enquanto atuava como engenheiro recebeu de sua avó, em 1985, uma boa quantia como presente de casamento, e decidiu investir na compra de algumas garrafas de vinho. Aí começou a se encantar pela expressão dos diferentes terroirs franceses. O traço em comum entre os vinhos de qualidade era o cuidado com a viticultura, validando a máxima de que “um grande vinho começa com boas uvas”.

Depois de mais de uma década em sua carreira na engenharia, estava entediado e decidiu pedir um estágio a Jean-Marie Guffens-Heynen, que também possui a maison Verget, na Borgonha, e é um dos expoentes da vinificação natural. Dois anos depois, em 1995, Texier começava seu projeto no Rhône. Nos primeiros anos apenas comprava as uvas de fornecedores que seguiam suas instruções de cultivo. Hoje, mantém 9,8 hectares de vinhedos, divididos em muitas parcelas entre o Rhône Norte e o Rhône Sul, além de Mâcon, na Borgonha. Ainda compra as uvas apenas de Châteauneuf-du-Pape, Côte-Rôtie e Rasteau.

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Adepto da vitivinicultura natural, que aprendeu na Borgonha, Texier também resgatou a Serine, uma série de diferentes clones que a Syrah pode ter | Foto: Divulgação

     

    Apesar de vinificar em diferentes comunas, Éric Texier tem seu nome muito ligado ao “redescobrimento” de dois vilarejos na parte sul do que é conhecido como o Rhöne Norte, onde a Syrah reina. Na margem direita do Rio Rhône está Brézème e na mesma latitude, mas na margem esquerda do rio está Saint Julien en Saint Alban. Além das variadas exposições, a principal diferença está no perfil do solo. St-Julien tem o clássico granito, com manchas de xisto, presente nos principais vinhedos daquela zona, como Cornas e Côte-Rôtie. Já em Brézème há predomínio do calcário, com diferentes teores de argila, um solo que retém menos calor e que resulta em outro perfil de vinho. Segundo medições de Texier, a temperatura no solo entre as duas regiões pode chegar a 12 °C na mesma hora do dia. E são apenas 5 quilômetros de distância entre as duas. Outro fator associado a Texier e seu filho, que também produz vinhos, é a Serine, que ainda gera uma confusão se seria uma variedade ou um clone de Syrah. Segundo os Texier, Serine é um perfil de uva, que está agrupada em uma parcela de vinhedo, que pode reunir diferentes variedades ou clones de Syrah.

    Em seus vinhedos, a viticultura é orgânica (com certificação Ecocert), é praticada há duas décadas, com algumas práticas biodinâmicas. Se não bastasse, Texier prefere seguir a linha de agricultura natural, desenvolvida por Masanobu Fukuoka, que se volta mais para o solo e a vida que há nele, em vez de observar apenas as plantas ou as frutas. Nessa filosofia, a planta e a fruta apenas expressam a energia que há no solo.

    Logicamente, tanto no campo quanto na cave não há a utilização de químicos. Para Texier, até mesmo o excessivo controle nos rendimentos da videira, seja para aumentar ou para reduzir ao extremo, é considerado uma manipulação fora de seu manual de vitivinicultura. As fermentações são sempre espontâneas e, via de regra, tanto brancos quanto tintos estagiam parte em tanques de cimento (metade do volume) e em barris de carvalho, nunca novos. Nos tintos, os cachos vão inteiros para os tanques (sem retirar os engaços) e as macerações são curtas e sem remontagens, apenas cuidando para manter o chapéu das cascas imersas no líquido.

    Sobre o uso de enxofre, Texier tem uma visão própria. Raramente utiliza o antioxidante na vinificação e, nos casos de exportação, adiciona o mínimo necessário para o vinho chegar ao consumidor em condições ótimas. Isso significa o máximo de 40 miligramas por litro. Conheça como cada rótulo se comporta na taça. Todos os vinhos de Éric Texier são importados pela Clarets.

    Éric Texier Adèle Blanc 2019

    • Rhône, França
    • R$ 275 – Clarets
    • 89 pontos

    Este Côtes du Rhône branco é feito apenas com a variedade Clairette, com cachos inteiros prensados, fermentada em tanques de cimento sem adição de leveduras e sulfitos (apenas 30 mg/l no engarrafamento). Nariz com frutas brancas maduras, marmelo, damasco e jambo com caramelo-claro, talco e amêndoa. Untuoso e amplo na boca, tem equilíbrio no álcool comportado e toque de melão que dá algum frescor. Adèle é a heroína de um cartoon francês.

    Éric Texier Brézème Roussanne 2019

    • Rhône, França
    • R$ 432 – Clarets
    • 93 pontos

    Roussanne 100%, cultivada no solo calcário de Brézème. Seguindo o protocolo, cachos inteiros prensados, fermentação espontânea e tanques de cimento. Na taça mostra ótima elegância, com frutas amarelas e brancas frescas (melão, pera, nectarina e ameixa amarela) e com mineral (talco) mais intenso. Na boca tem grande vivacidade e frescor, deixando de lado qualquer referência de uma região de clima quente. Tudo muito bem integrado, limpo e o final com flores brancas. Ótimo.

    Éric Texier Châteauneuf-du-Pape Blanc 2017

    • Rhône, França
    • R$ 999 – Clarets
    • 96 pontos

    Um estilo muito particular de Châteauneuf branco. Feito com partes iguais de Clairette e Bourbolenc, aqui a fermentação e um estágio de 12 meses são em barricas usadas da Borgonha. O visual dourado já indica o estilo oxidativo, que pode ser um Jerez (um Fino evoluindo), confirmado pelos aromas de mel, marzipã, frutas amarelas, hortelã e acácia. Esta riqueza segue com a mesma intensidade na boca, com salino e ácido que dão firmeza ao conjunto, com notas adicionais de maçã seca, defumado e camomila. Complexo, amplo, fresco, é um vinho branco completo, uma raridade.

    Éric Texier Chat Fou 2018

    • Rhône, França
    • R$ 266 – Clarets
    • 89 pontos

    Roussanne 100%, cultivada no solo calcário de Brézème. Seguindo o protocolo, cachos inteiros prensados, fermentação espontânea e tanques de cimento. Na taça mostra ótima elegância, com frutas amarelas e brancas frescas (melão, pera, nectarina e ameixa amarela) e com mineral (talco) mais intenso. Na boca tem grande vivacidade e frescor, deixando de lado qualquer referência de uma região de clima quente. Tudo muito bem integrado, limpo e o final com flores brancas. Ótimo.

    Éric Texier Brézème Syrah 2015

    • Rhône, França
    • R$ 382 – Clarets
    • 92 pontos

    Aqui a Syrah está plantada nos solos calcários de Brézème, em vez do padrão granítico do norte do Rhône. A vinificação ocorre com cachos inteiros, em tanque de cimento, e sem qualquer trabalho de pigeage ou remontagem. A extração ocorre literalmente como uma infusão. Na taça, boa trama de frutas negras (amora, cereja e ameixa), pimenta negra, páprica e balsâmico. Os taninos são muito finos, compactos e bem integrados, ao lado de ótimo frescor e final fluido, com toques defumados e de pólvora.

    Éric Texier Brézème Domaine de Pergaud Vieille Serine 2015

    • Rhône, França
    • R$ 532 – Clarets
    • 93 pontos

    Aqui são utilizadas as vinhas mais velhas de Texier, a Syrah (Serine) foi plantada na década de 1930. A fermentação se deu em tanque de concreto, seguido de estágio em foudres (tonéis) antigos de carvalho. Apesar de jovem, há força e tensão singular neste tinto. Nariz com violeta, frutas negras maduras (mirtilo, ameixa e cereja), pimenta preta. Na boca, os taninos mostram belo polimento e integração, com frescor na medida, reforçado pelo floral da violeta. No final aparecem azeitona preta, grafite, pólvora e pimenta-da-jamaica. Complexo, longo e polido, um grande Syrah. 

    Éric Texier Châteauneuf-du-Pape tinto 2017

    • Rhône Sul, França
    • R$ 1.032 – Clarets
    • 94 pontos

    Aqui Texier busca as uvas em La Crau, considerado um Grand Cru de Châteauneuf-du-Pape, com o típico solo de galet (cascalho branco e redondo). O corte é composto por 95% de Grenache (vinhas com mais de 70 anos) com 5% de Mourvèdre, estagiado em barricas usadas da Borgonha. A boa mescla de frutas frescas e maduras (framboesa e cereja) ganha a companhia de amêndoa tostada, terra e toffee. Na boca tem sedutora cremosidade, com umami, taninos compactos, firmes e em enorme quantidade. Final com toque de especiarias e talco. Ainda muito jovem, a tendência é só melhorar pelos próximos anos.

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